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domingo, 25 de abril de 2010

Retirado do site Inclusão Social Diversidade

Quem é o surdo?


Até bem pouco tempo atrás, os surdos constituíam um grupo segregado e não era comum vê-los atuando social e politicamente. É por essa razão que, quando um deles está participando de uma classe regular, o professor sente-se desconfortável, o que não se deve unicamente ao fato de nunca ter tido contato com alunos surdos, mas também ao fato de não ter recebido informações sobre essa especificidade educacional durante sua formação docente.

Por isso, a presença do aluno surdo em sala de aula exige o estabelecimento de uma formação continuada, por meio de leituras e troca de experiências com profissionais da área, a fim de discutir alguns pontos salutares para as relações pedagógicas e o processo de ensino. Um dos pontos que se propõem para reflexão é saber quem é o surdo. O que, de fato, ele representa? De que se constitui esse sujeito e qual a história desse aluno?

Quando buscamos esse entendimento subjetivo, podemos ter nossa visão ampliada, pois só nos relacionamos com quem conhecemos e, considerando que a interação é fundamental para o processo de aprendizagem, é preciso conhecer o aluno para, então, educá-lo.

Sabemos que tentar “definir” alguém não é tarefa fácil. Como todos os seres humanos, os surdos constituem-se de uma multiplicidade de características, identidades, culturas, ideologias, subjetividades. Enfim, não são todos iguais, mas, na singularidade de cada um, compõem uma minoria que, de estigmatizada, passou a ser altamente valorizada. Vamos conhecer, brevemente, o percurso histórico pelo qual os surdos passaram para, através dele, tentar estabelecer a nossa visão sobre esses sujeitos.

Até, aproximadamente, os anos 80 do século passado, não existia ainda a proposta de inclusão no Brasil, e os surdos frequentavam as escolas especiais, ou seja, eram educados em espaços segregados, separados das demais crianças. Além disso, a educação que recebiam não seguia os moldes dos currículos das escolas regulares, pois eram vistos como pessoas deficientes e carentes de uma reabilitação, o que lhes garantiam eram intervenções clínicas que pudessem suprir seus déficits.

Assim, o que mais importava era proporcionar exercícios fonoarticulatórios e de aproveitamento de resíduos auditivos em detrimento de conteúdos acadêmicos com a finalidade de integrar esses alunos à sociedade. Os profissionais que adotavam essa corrente acreditavam que, se os surdos não falassem e não ouvissem como a maioria, não seriam aceitos pela população. Devido a essa crença, viam a língua de sinais como um fator de regresso, combatendo esse “perigo” com a proibição da comunicação gestual. Por causa dessa mesma concepção, houve um crescente desenvolvimento na área clínica. Foi o auge da carreira dos fonoaudiólogos que recuperavam pacientes e das empresas de aparelhos de amplificação sonora, bem como das pesquisas sobre patologias do ouvido, que culminaram nos atuais implantes cocleares.

Porém, com o acelerar da recepção de informações, a sociedade progrediu e teve sua visão alterada. A partir da década de 90 do século passado, inauguraram-se algumas pesquisas no País sobre a língua de sinais, o que propiciou um olhar antropológico e cultural sobre a surdez.

Esse olhar para o surdo como uma pessoa diferente acabou com a concepção de deficiente auditivo, que havia se impregnado nos meios educacionais, e consequentemente anulou a necessidade de reabilitação como forma de integração social. Nessa nova corrente, acredita-se que o surdo já faz parte da sociedade, sendo, apenas, mais uma figura no cenário da diversidade que existe na sociedade (de cor, religiosa, sexual, financeira, política, de gênero, de raça, etc.). Os surdos passaram a ser marcados pela mera diferença linguística. Não só podem usar sua língua, mas também ensiná-la, tendo sido brindados com o reconhecimento nacional da Língua Brasileira de Sinais, por meio da Lei 10.436/02.

Nesse sentido, também deixam de ser válidos termos como surdo-mudo ou mudinho, pois, além de serem pejorativos, não estão em sintonia com o que já é socialmente aceito: o uso da língua de sinais. Ora, conceitualmente, falar não significa vocalizar, emitir sons, mas expressar a sua língua. Então, dizer surdo-mudo é duplamente incorreto. Primeiro porque existem muitos surdos que têm domínio da língua oral e se comunicam também por meio da voz, ainda que os fonemas sejam desorganizados pela falta de feedback auditivo. Depois porque, quando o surdo está sinalizando, ele está pronunciando-se na sua língua, está falando.

Finalizando, os surdos são deficientes auditivos para aquelas pessoas que os veem com uma visão clínico-terapêutica, são surdos-mudos para aqueles que não os ouvem na sua língua, mas, para aqueles que os olham respeitando sua diversidade linguística, são apenas… surdos.

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